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Mostrando postagens de março, 2015

Para poder viver.

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Bom dia meu amor, meu amigo, meu irmão. Escrevo-te essa manhã pra dizer que acordei em desalinho. Tamanho o desalinho que o café amargo não me alinha, que o fumo, ah o fumo, você se lembra? Cabia em todos os momentos. Hoje não cabe. Não floresce nem seca. Essa manhã ao ver o sol eu pensei, imaginei. Foi uma prece aos nossos deuses. Rápida, singela. Te pedi pra ser feliz e que não te falte estrada. Que nos teus novos desencontros você se encontre. Percebi essa manhã com o sol às minhas costas que não posso te levar, te carregar. Então, se der. Se puder. Leve então algo meu. Não o coração, esse não. Carregue um sorriso, um abraço. Um pedaço. Eu vou indo também, vou no meu passo. Desejo-te todo o amor do mundo pra viver sem mim, sem nós. Para viver longe, para se mudar. Eu troquei meu cheiro e o peito anda apertado. Mas não tem erro não, isso tudo passa. Quando aquela porta abrir eu vou também. Vou enfrente. Vou sem dó, sem medo. Hoje eu tenho um encontro comigo, vou dar-me colo

Olhos de mar

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Hoje então te vi, tão alheio que o reconheci. Atravessando copos, e corpos. Lançando fumaça pro alto. Sorrisos longos, e largos. Aquele jeito de que a vida lhe cai bem, e cai. Tão bem te cai meu bem, que não perco a hora. Agora. Suspiro e te sussurro, apresento-te olhos doces, e profundos. Profundidades oceânicas, rochedos onde também teu mar arrebenta. Tu sorrindo diz da minha desenvoltura. Mentira. Nada te ofereço se não ensaios. E bebemos, e brindamos. Beijamos. Tão ternamente que de repente perco o norte e o guia. E nesses braços, e embaraços. Olhando-te sem aqueles longos sorrisos, pensei. Pensei que talvez haja nos teus olhos algo como um poço. E que te escondes tão bem que olhando agora nada concluo. E inundo. Transbordo. Invado teu poço. Guerreias desesperadamente. Esbraveja. E te afogo e te emerjo. E tu, tentando amar-me, desbravas o cais às minhas costas. Apenas para deparar-se com meus olhos-espelho. E te arrebata. Arrasta. Maré ou maresia. Até que então pela manhã con

Domingo-chumbo

Madrugada d’um domingo-chumbo Deus tirou-me visão e juventude Rasgou-me os olhos. Águas tépidas. Indômitas. Estou morrendo. Faz frio lá fora e chove e vento Deus tirou-me pele, nervos e abraços Partiu-me os ossos e a cara Estou morrendo. Escuridão no quarto. Corpo-fardo Deus tirou-me voz, lábios e beijos Levou-me o verbo e as palavras de amor Estou morrendo. Fez-se silencio em toda loucura Deus tirou-me tímpanos, orelhas e sua voz Arrancou-me promessas e lealdades Estou morrendo Apenas o nada. O Barro, o vão e o espaço. Deus tirou-me alma, armas e grilhões Cobriu-me de pó e pequenas cicatrizes Estou vivendo.
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Lâmina e cárcere

Menor o receio da mão que segura a faca se ela própria existe. Nada conta o metal a lâmina ou o cálice Não anuncia reflexo, o espelho. Não tecem contos não contam os mortos, ou predizem o medo. Mas é certo que virá. É certo que veio. Ousa a jaula o cárcere cantar a liberdade? E o animal? O eu-animal não arrisca em ti um último fôlego? Não te desespera criatura do mundo a lâmina e o cárcere? então o que teme? Se não o vazio, o júbilo da vida?
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Sergei Polunin em "Take Me to Church" - Hozier

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Girassóis de Vênus

Deita-te entre os girassóis doce amor. E derrama líquida tua semente Que vivaz ainda no teu pranto faz presente, um cantar sobre  saudade. Dor pungente. Busca-me na noite doce amor. Entre Orion e Vênus Na palidez da estrela vida o minguante transito de lua. A compor a tessitura o universo só de ti. Te segura à borda do mundo se quiseres, mas deixar-me ir. Pois é sonho o dia-ontem. E de mistérios nossa ausência. Pavor maior não há o de se saber só do mundo. De aspereza última A canção do exílio De só saber de nós O seu desejo.

A bailarina

Embriagada de noite Alma santa. Ceifeira de flores Pudores Dança-luz á bailarina Árduos lábios. Centelha viva. Corpo-estrela Cabelo ou névoa Cascateando venta Fluxo de admiração A bailarina Intocada e linda A dançar tuas feridas Fecha os olhos Cai o pano Vem o dia pequenina Ao sol não há magia Não a sua Bailarina.

Tempo liquido

Repousa agora o tempo passado de mangas puídas. Olhos inchados. Das Trevas o fulgor. Renasço santo de pecados. A desvelar cortinas Tempo esse de brisa. Gênese de chuva liquidez sacra antagônica ao diabo A molhar-me os pés cansados A transformar-me nu O maior dos lagos.

Jardim Azul

Se teu jardim cantasse Ah e que esplendor seria Ouvir das rosas às orquídeas Sonoridade de alegria. Dos solenes grilos às cigarras Melodia de saudade O triunfo anil Os teus canteiros Corpo-terra Azul de ausências Se teu jardim falasse Certamente ele diria Que vem do azul a poesia. Das mariposas ás bétulas Confessariam Só floresce amor O que é regado na saudade.

Gozo

É de gozo seu desejo insone Vaidades tantas Desse peito alagadiço Onde habitam feras e perigos Ausência viva a fogueira da pulsão fogo pálido de sombras Contorno ou compulsão É rutilante e pertinente o existir como se é fruto indiviso de transa Do espelho ao que se vê Só ascende inteiro o homem-espelho a partir dos olhos que o leem.

O homem das roseiras

No vão dos becos por inteiro o homem das roseiras. Canta livre teu anseio. A colher no riso Lua cheia. Do teu peito Vaga-lume. Fulgura livre em tua roseira. A trovar sobre jardim alça vôo ás estrelas . Dança nu O grão solene que floresce farto de esperança ao sabor do vento vivo Verso de lembrança. Raia o dia no jardim e o homem santo ara a terra Planta afagos que hão de vir Poesia de colheita

Afago de estação

É vidro frágil nosso belo tempo onde existir múltiplo de afago é necessário. O colorir de beijos Santuário. É terra batida o nosso passo. Ao avançamos nus pelo penhasco. Á cantar baixinho sobre laços. Decompondo nós o gosto amargo. Disposto e quente os teus anseios. Flor primeira de estação Á Dançar solta o tempo-hoje curvada ao vento Saudação. Brada livre o caminho. Não há amor com retidão.

Fome

É fome a estação de ida Dos olhos esquálidos Ironia de se estar imundo de mundo Inópia companhia. Das mazelas do ser O crediário de alegria revés do santo O capital A pesar no bolso á lida. Da mesquinhez do barro a casa-areia faminta de chão. Quinhão. Paga a prazo a lua cheia. Voraz é a graça do teu nome Devora do homem tripas coração.

Céu de ida

Se é de alma teu tesouro Cá estou limpo de ouro. A sustentar no peito Teu anseio. De ser único do mundo desbravador de céu. Que coleciono só a imagem Como prece Como quem pede liberdade. Hábito no entre-mundos dos teus pelos Que agarro em súplica Semi-desespero Por conhecer de cor o desamor Só sei de mim O que não compreendo Desvelo meu corpo aos teus laços. revelo-me sombra do teu passo A cruzar nu, o deserto Colhendo na areia O tempo e os afagos Sorvendo em ti tua seiva Veneno urgente de lucidez O amor, só conheço de ida. Em tuas costas: Peso da alforria No cantar das aves A benção pros teus pés. A estrada e o longe. Ao bem mais de nós.

Imagem-ação

Faço de minha arte Loucura e salvação Dos versos o inverso. O próprio coração No vento norte Plantei os pés Não há caminho que não acompanhe do todo A criação Do amor Construí minha casa Onde reside O cósmico. Adoração. Do santo Vesti tua pele e trago no corpo Tua bênção. União. De rezas tantas Amei os mares. E trago no olho O gotejar Saudade Onde escorro Livre de tempo Fluída Viva Imaginação.

A face dos homens

Sou ante o breu filho da luz e dela companheiro. Não temo a grande tempestade pois dela eu próprio sou feito. Não lanço mão de armas e a elas nada devo. Só carrego o amor e faço dele esteio. Meu é o corpo forjado do barro celeste do qual todo homem é feito. É morada do tempo e não se dobra as agruras da noite mas se curva humilde aos encantos da terra. Meus são os olhos do firmamento. A centelha viva. Composta da chama primordial. Moldados da matéria das estrelas. De matiz única e sacra o infinito que só enxerga o longe e a bem-aventurança Da face de Deus Essa eu recolho do espelho.

Há o buraco

há um buraco no mundo para onde todas as cores se vão lívidas ou sujas pelo teu batom. Que a meia-luz tu o retocas quase feito pincel fotografia gasta de semi-utilidade ronronando baixo semi-tom Percebo-te noite Quando exalas no hálito o perfume funesto das flores onde estrangulas o broto e a relva fazendo-te bela em contravenção E ti criatura eximia da perseguição fazei-me refém de meus próprios pudores amores Para no fim como qual folha branca irresoluta e só ronronar baixinho como um sopro semi-tom - E o que é o amor?

Elegia de pedra

O que é a aspiração força do homem. Se não rolar de pedras que almejamos subida. Glória. Depositar de fardos descansar os ombros que de liberdade cantam alegremente a elevação de teu despojo último. Seio e claustro onde na crueza do mundo. Vida Elegia de pedra rola solta o precipício. Desvendando do homem recôndito clandestino bruto pedregulho. Pousando Faca Perdão e rocha.

Criatura Homem

Não é no que concerne homem bicho escuro avesso de luminosidade criatura ambígua antropofágica desmedida e sem razão Um cantar pungente dor Desafiando a vida sambando sambando?

No vão das coxas

Há no vão das minhas coxas Amor no poço e na retina de fato há entre mentiras teto claraboia. Há no áspero futuro a flor opaca das horas evidenciando nos espaços, a parede nua de encanto. A casa enunciando o bem mais. Na sede ávida de simetria desfilando teu casaco pérola. desfiando marca e tragédia. Ouso alegar: Há ainda no vão das minhas coxas Amor.