Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2016

Ponto-cruz

No esbarrar de olhos, cruzados no fio, ponto-cruz da vida cotidiana, tecendo contos breves, histórias anônimas, urbanas, perdidas, no entre por de carros às onze do lume notívago de uma noite qualquer.

Manifesto ao Desejo

Eu quis acreditar nas palavras que você não disse, eu quis acreditar no amor prematuro não vivido, eu quis acreditar na juventude efêmera e no tempo reversível, eu quis acreditar no poema nunca escrito e no futuro dos versos, eu quis acreditar na calmaria após a tempestade, eu quis acreditar na verdade, se houver alguma verdade para se crer, eu quis acreditar na imensidão do universo e na conjuntura total dos astros solares, eu quis acreditar na presença e em dias amenos, eu quis acreditar na beleza escondida dos pequenos gestos e no espelho infinito dos olhos, eu quis acreditar todos os dias em você.

Descontínuo vendaval

Então será possível que o tornado passe sobre tetos tanto tempo indulgentes, enquanto assobia sua canção fantasmagórica entre cabelos há muito envelhecidos de mal tempo e desamor? Lança sobre mim o vendaval das coisas efêmeras e líquidas, como a chuva que inunda a casa, o olho, o ombro tantas vezes atingido, tantas vezes retesado, qual o arco profano irmão gêmeo do trovão. Aqui estou, ó vórtice divino. E tenho medo e resisto.

Confissões Passageiras

Observo curioso os passageiros às janelas, abertas (ou não) contemplando a rua comprida e enfeitada pelo neon gasto dos bares de quinta à segundas inteiras, esperando, quem sabe, o convite ao abraço de braços mais corajosos e firmes, que os arranque intactos de suas amenidades contemplativas. Tirem-lhes às vidraças baças deste transporte medíocre e circundante, pois já não move ou comove o corpo do humano posto à teu lado.

Vias, estradas & emoções

Há nesta miríade cósmica composta quase e exclusiva de homens longos e brutos, presos à rochas íngremes como arranha-céus altivos e negros contra o olho solar. Ainda hoje, nesta era, há a senda secreta, o trilho e o trem vacilante em solitude máxima, dirigindo-se com primor desvairado através das curvas e trilhas e estradas e abismos inteiros. Nômade! Cigano do tempo em primazia, caminhante equilibrista do fio do tear do fim da vida.

Fragmentos Cotidianos

O amor, como qualquer outra droga ou te da barato ou te frustra

Diálogos Urbanos

- moço, tudo bem? - tudo - pode me tirar uma dúvida? - claro! - onde me encontro?

Obscena epifânia

Maldito! O anjo nú e moreno como tantos outros tantos que me atravessou do peito às tripas, que consumiu o berro e a garganta em chamas lânguidas, fogo-fátuo dos mágicos, picaretas e contrabandistas escuros munidos de flores outras nauseantes do cheiro doce dos condenados, esquálidos nas esquinas desertas, ocas e áridas das tuas asas imensas, serafim negro, breu noturno, espada na noite. Obscena epifânia - Vini Miranda.