Estou aquecido entre ás paredes brancas e implacáveis do meu apartamento de segundas à domingos-infinitos oferecendo carícias e poses e chás e tantas outras doses à minha solidão. Estou envelhecido, branco e estático em meio aos móveis, passeio desatento ás distâncias entre o chuveiro e o gotejar incessante das pias de cozinha. Estou esquecido das praias e campos e montes, esperando de longe que se cumpra a profecia. O romper final das cinzas num lance de tintas e quimeras ruidosas sob minha janela. Ouço ao longe uma intensa melodia, um sopro de blues sobrepondo os carros velozes nas noites mornas de quinta à intermináveis avenidas, lisas, enfeitadas por luzes, álcool e (in)cansáveis magias. Ao longe, ouço/sinto o chamado, orvalho divino entre meus lábios, entrego-me solidário ás cores (e dores) soltas (loucas) e imensas do outro E assim, a poesia entrou em minha vida.