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Mostrando postagens de abril, 2017

Elegia aos Pombos

Passei com temor por aquela nossa antiga esquina no pequeno bairro triste das pequenas flores, não havia pombos no parque ou grão suficiente que os sustentassem. Imagino, enquanto faço a volta aqueles bancos cinza, impondo-se ao verde rasteiro e as aves, uma escultura pensa das infinitas tardes ao sol de outra vida. Apressados como quase sempre, como quase todos os outros. Corremos, alucinados pelo encontro do destino, porém, não gastamos tempo que fosse o bastante para lamentar as minúsculas falhas e eram tantas, que somando-as em rio tornaram-se um mar e meio de distâncias. O que fizemos de errado? Eu não saberia ao certo quando, como, ou estenderia os porquês da despedida, mas envelheço só e continuamente todos os dias, no caminho entre a esquina e o parque, sustentando pombos ausentes do nosso amor.

Ensaio contra o Sol

Quem é que olha pelos meus olhos? Quem é que mastiga com minha mandíbula aberta para quem quiser sentir, o podre e o ocre das línguas afiadas umidificando o caminho, o grito mudo , também preso da fera humana especular? O (des) gosto do sal temperado por ausências, terrores póstumos e de uma palidez brutal, manchada somente, pelo vinho ácido dos dias iguais do cativeiro, das horas amargas e vulgares sob uma meia-luz qualquer marginal. Enlutando o crânio, o pranto, passeando às avessas da luz, a ceifa adorada segue, todo dia, em todo canto, devorando do animal as vísceras esplêndidas estendidas contra o sol. Ensaio contra o Sol - Vini Miranda