aquilo que um dia foi rosa

é que as rosas
resolveram fechar-se
em suas pétalas
e os rios
dedicaram-se
a correr
pelas cidades
e a vasculhar
os extensos
quilômetros
de pele
que nos separa

apenas
pela fagulha
da possibilidade
de desaguar
entre tuas valas
ou comer
do seu riso
um rastro forte,
um rangido,
algo que traça
na fronte
subitamente
uma linha,
um mapa geográfico
da sua espessura,
uma gruta escondida
na escuridão

é que o sangue
que corre
nas veias
que te compõem
um cenário de treva
tetas e fossas,
até que te arranca
o dente
é o mesmo
tombo
fruto
daquilo que
se esconde
nas entranhas,
no breu
e no casulo
bruto
da rosa

é o engano

por certo
é o engano
da flor
que produz
aquela coisa
amarga
e recolhida

é o engano
que chama
a si mesmo
por pequeno
milagre
e implora
enquanto chora
um pranto seco
pelo deserto,
dispara
um lamento
largo
e agudo

repetindo alto
apenas
como um
mantra,
como um
ato de fé,
de misericórdia,
que repousassem
suas raízes
cansadas
sob uma pedra

que distribuissem
suas pétalas
manchadas
(e murchas)
em qualquer
abismo,
em qualquer
recorte
de areia
inexplorada

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