encontros que ficam

hoje é mais um dia que nos
esticamos
um sobre o outro,
a lua, o poste e os gatos
nos observam atentos
do nosso interior,
disseram que há alguma
mediunidade nos gatos,
uma estranheza típica
de quem olha pra dentro,
não sei, com certeza
existe um certo olhar
de quem revela,
de quem entrega o jogo,
talvez até entregue mesmo,
mas não hoje
que nos olhamos de perto
e que eu conheci aquela
sua pinta nas costas,
não hoje
enquanto nos enroscamos
e nos ajeitamos pela quinta vez
naquele mesmo banco
duramente cinza e penso
no meio da praça,
não enquanto
a cidade toda silencia
suas trombetas de serafins tristes
e mudos,
não na nossa praça íntima
a praça de ontem
e anteontem
e de semana passada
de novo o mesmo banco
e nós
que já não somos os mesmos,
mas que ainda permanecemos
meio verdes e trêmulos
mal imaginamos
a fundura do poço
um do outro,
que ali escancarados
e desprotegidos
sobrevivesse
de alguma forma
uma semente
algo como esperança
um futuro bonito
enquanto o beijo for quente
e o solo vingar.

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