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Mostrando postagens de novembro, 2017

coisas que brilham

eu vi quando você virou estrela e seus cabelos tremeluziram gaivotas de luzes verdes que iluminaram seus olhos como duas luas cheias com o pó prateado das coisas que orbitam entre suas coxas como uma cascata de pequenos vagalumes, eu vi. eu vi quando você tocou a atmosfera e suas mãos se estenderam como faróis daqueles capazes de guiar um homem eu vi quando você se partiu para renascer coroada de luz num outro plano espacial detentora do tesouro dos reis astros maiores atraidos pela grandiosidade da sua luz então você se foi no oceano da noite uma sereia espacial iluminando o mundo.

não pise nas flores

não pise nas flores mesmo que as vezes ela te peça, nem feche a janela em dia de chuva nem sufoque um gemido na boca da paixão não use grilhões nem ofereça não se perca do brilho das estrelas enquanto caminha os passos do mistério, não se curve demais para que não se dobre nem estufe não se perca no macio irregular das ondas nem no canto agudo da sereia sob a pedra ou das aves marinhas, ou das conchas tímidas fechadas em si mesmas oferecendo suas pérolas e suas tripas amorosas ao sol e ao deus errante dos marinheiros.

o risco de chover

eu corro o risco de cobrir suas palmas com as cores dos desertos, de projetar nas suas palavras um raio laser sem qualquer  efeito léxico, sem semântica, forma ou estrutura anatômica, apenas um apanhado dos fiapos do tempo displicentemente emaranhados no canto oposto da sala de estar, corro o risco de provar do copo de luz sob a mesa e de acender mais uma vez as luminárias do jardim, corro o risco de te imaginar mais uma vez aguando as plantas, espalhando teu cheiro pelos hortelãs e os morangos silvestres, corro o risco de correr perigo e te amar outra vez.

a falta

pequenas flâmulas anunciam o túmulos dos anjos em pleno cerco, verdadeiro estado de sítio, uma completa febre noturna em que você se deita oferecendo seu pescoço aos cães, despindo suas cascas enquanto alterna suas muitas caras tristes, aquela que costumava mostra nos dias de verão em que tudo é calor e a terrível anedota sobre as alças do espelho e conta com o doce jasmim da sua boca como você me deseja quando o sol baixa e se estende sobre mim como um mapa e eu te conto com a boca escancarada sobre o terror pegajoso​ da morte e da falta do jasmim quando você não vem.

as coisas do amor

antes que o sol morra falemos das coisas do amor, falemos da forma como você se move sobre a espuma, da forma como você me chega e me invade e finca sua bandeira tímida ao mastro, falemos sobre as tuas curvas ou a forma como você sorri um sorriso branco, limpo, transpassado pelas histórias de um outro tempo, falemos sobre as aves de rapina e o sal da sua pele, falemos sobre a lamparina dos teus olhos e a maneira como você ilumina, antes que a terra trema falemos das tuas vitórias no campo de batalha, sagrado vênus, falemos da semente e de como você sussurra canções às flores, de como você se estende pelo céu em cores, falemos sobre o arco das tuas sombrancelhas contra a geometria do teu peito, falemos das mãos em concha e da pureza dos rios, falemos dos teus cabelos, das tuas rugas, do peso das tuas costas falemos, sobre tudo das coisas do amor.

interdição aos vagalumes

cintilam dois pequeno vagalumes por de trás das suas pálpebras fechadas em algum ritual sagrado para a catarse absoluta ou você apenas cerra os olhos na esperança de tocar por alguns minutos o centro do mundo, o umbigo de deus: todas as coisas, até as coisas que penduramos esperando o sol de amanhã, até as cinzas dos cigarros e a chama, o pavio, a bomba e o estilhaço, talvez você até pressinta minha ânsia, pois sempre que te toco e toco consciente do ato sublime das mãos você se move e se afasta e se recolhe e cerra as pálpebras descansando os vagalumes em alguma floresta inabitada, onde talvez habitem feras perigosas e seres fantásticos de pura luz, talvez você até tenha aprendido algum segredo com as folhas do carvalho, talvez você tenha desenvolvido o mistério dos rios e seja você mesma feita d'agua, uma antiqüíssima força que só se toca com a ponta dos dedos, algo parecido com magia, uma espécie nova de amar e perecer.

o lado escuro do sol

estamos todos inseridos num dificílimo conjunto de leis universais que rege a coisa das pessoas, um complicado aparato (i)moral que governa o fio, tece os encontros, dispõe dos nossos braços como máquinas amputadas na cronologia dos abraços, dispõe da nossa boca enquanto silencia o eco da brecha da falha universal intrínseca de todos os bichos e anjos um código nuclear inscrito na língua morta das estátuas, fachadas que iluminam a si mesmas no cruzamento das avenidas permeadas pelo pavor do sol em ruas paralelas de começo de novembro, óbvias, como o amor e a sal das nossas vidas a vida das flores espalhadas pela capital azul numa segunda qualquer enquanto a fuga é possível e a janela está aberta a chuva molha as plantas na varanda e o vento corre sobe seu nome, acena e se despede das barbas politicas e dos retratos enquanto a lua ilumina o caminho do centro até o jardim.